Depois de anos de presença garantida nos encontros de planejamento estratégico de grandes empresas, a análise SWOT está na berlinda. Alguns vêm acusando nossa velha conhecida de estar obsoleta e defendendo seu abandono absoluto. Como muitas equipes estão preparando seus encontros de planejamento para o próximo ano, achamos oportuno esclarecer esse tema, explicando o que está por trás dessa crise de popularidade da SWOT e trazendo uma alternativa para quem está buscando renovar seus métodos e ferramentas.
Onde foi que a SWOT errou
A análise SWOT é uma ferramenta usada para criar um retrato macro do cenário interno e externo da organização para nortear o planejamento. Sua aplicação é bastante conhecida: após listar as forças e fraquezas internas e os riscos e ameaças externas, o grupo prioriza os temas mais relevantes em cada quadrante. Os pontos destacados passam a direcionar os planos de ação, que deverão focar em aproveitar as oportunidades e forças mais promissoras, assim como mitigar os riscos e fraquezas mais expressivos. E é aí que mora o problema!
Esse racional fazia todo sentido no ambiente mais estável do passado, mas é bem problemático nos nossos dias. No momento de profundas transformações que atravessamos, pode ser que as fraquezas de hoje não sejam mais relevantes no nosso estado futuro, que está logo aí. O mesmo vale para as forças, oportunidades e ameaças que constam na foto do presente. Assim, ao invés de mobilizar recursos e atenção para endereçar questões desse retrato do agora, a empresa deveria focar em construir o seu novo amanhã, no qual o mercado, o negócio ou sua forma de operar podem estar totalmente reconfigurados.

Por outro lado, caminhar nesse mundo novo, projetar cenários e imaginar soluções disruptivas requer um ambiente aberto, diverso, criativo e colaborativo. Ao discutir fraquezas e riscos, muitas vezes, disparamos gatilhos de uma cultura de medo, culpa, intolerância ao erro e outros traços que muitas organizações ainda lutam para desconstruir. Portanto, realizar dinâmicas que despertem essa atmosfera durante o encontro de planejamento pode ser contraproducente para criação de um clima realmente inovador.

Em outras palavras, a matriz SWOT continua sendo o que sempre foi, com suas qualidades e limitações. O que mudou foi o cenário no qual estamos planejando, que exige de nós uma capacidade sem precedentes de olhar além do que vemos a olho nu, usando nossa sensibilidade humana e também o binóculo e o telescópio. Só assim poderemos construir novas visões de futuro e pensar caminhos para avançar numa jornada incerta e inédita.
Alternativa para os novos tempos
Novos tempos requerem novas ferramentas e há diversas opções por aí. Vamos falar de uma delas, a SOAR. O nome SOAR também é um acrônimo e suas letras significam: S-Strenght (força, em inglês); O-Oportunidades; A-Aspirações; R-Resultados.
Assim como na SWOT, o grupo mapeia suas forças internas e oportunidades externas. A seguir, define suas aspirações, que não devem ser entregas específicas de curto prazo, mas um desejo mais amplo que sirva como uma luz de farol para direcionar os rumos da organização. Não há uma regra rígida para a quantidade de aspirações, mas recomenda-se ficar entre 2 e 4, pois, se forem muitas, podem gerar conflitos e dispersões excessivas, perdendo a capacidade de apontar o norte da organização. Para cada aspiração, o time indica alguns resultados-chave. Novamente, não há um número limite de resultados, mas também recomendamos ficar entre 3 e 5 resultados para cada aspiração. Por exemplo, se definirmos 3 aspirações e 3 resultados por aspiração, teremos 9 resultados-chave, o que é um bom quadro de referência. Finalmente, deve-se construir planos de ação para realizar cada um dos resultados.
A realização da SOAR não é tão simples quanto a da SWOT. Ela requer uma boa preparação antes do encontro, atenção na seleção dos participantes e experiência do facilitador que conduzirá o grupo. Por outro lado, se for bem construído, o enunciado de uma aspiração pode ser uma ferramenta poderosa para iluminar a organização, trazendo clareza aos movimentos de transformação que costumam desafiar a capacidade de comunicação e alinhamento das empresas.
Fazer a SOAR ressoar pela empresa
Não basta construir aspirações brilhantes e resultados poderosos e mantê-los apenas dentro do grupo restrito que participou da sua construção. É fundamental comunicar amplamente as aspirações e resultados para toda a organização, com especial atenção aos líderes, que devem compreender bem a essência desses direcionadores. Posteriormente, deve-se também fazer o desdobramento dos resultados e planos de ação para as áreas. Os organizadores desse processo podem adotar a ferramenta que preferirem para esse desdobramento, inclusive aproveitando alguma que já tenham usado para cascatear objetivos e metas e que já sejam conhecidas do seu público. Caso queiram adotar algo novo, o framework OKR (Objective and Key Results, Objetivo e Resultados-chave) pode ser uma boa alternativa nessa fase do planejamento.
Finalmente, é importante destacar que a SOAR não é uma alternativa unânime para todas as situações. Ela também pode não ser adequada para todos os contextos de planejamento. Apenas a indicamos como uma opção, mas sempre cabe um olhar crítico para escolher a ferramenta mais adequada para embalar esse momento tão importante do planejamento corporativo. Além disso, vale lembrar que a SWOT não está terminantemente proibida. Ela pode não ser mais adequada para todas as aplicações que já protagonizou no passado, mas ainda pode ser uma ferramenta simples e objetiva para situações específicas. Ou seja, nada de se empolgar demais com queridinhas da estação e nem cancelar totalmente as ferramentas clássicas. A chave é manter o senso crítico e escolher conscientemente o que melhor atende a realidade de cada contexto, de cada equipe e de cada empresa.

